quinta-feira, 27 de maio de 2010

PLANO GREGO DE AUSTERIDADE PARA RECEBER AJUDA DA UNIÃO EUROPEIA

1. Aposentadorias. A idade legal (65 para homens e 60 para mulheres, no momento) será relacionada com a expectativa de vida. O período de trabalho, a fim de ter a
aposentadoria plena, passará de 37 anos (2010) para 40 anos (2015). A base de cálculo dos proventos da aposentadoria levará em conta a média salarial dos anos trabalhados e não mais o último salário.

2. Setor público. O congelamento dos salários, já em vigor, se estenderá até 2014. Serão suprimidos ao 13º e 14º meses de salário na função pública para os funcionários que ganham mais de 3.000 euros mensais. Para os que ganham menos de 3.000 euros, os valores de tais salários terão o teto de 1.000 euros. Diversos outros benefícios salariais, que percebem os funcionários e que representam parte importante de sua remuneração total, sofrerão uma redução de 8% (além dos 22% já em vigor).

3. Sistema tributário. A TVA (ICMS) aumentará dois pontos percentuais (de 21% para 23%). As taxas incidentes sobre combustível, álcool e fumo terão um incremento adicional de 10%. O governo poderá ainda criar um imposto adicional para as empresas mais rentáveis e ampliará a fiscalização imobiliária.

4. Investimentos públicos. Prevê-se a redução do conjunto dos investimentos públicos (sem mencionar cifras ou percentuais), bem como a liberalização dos mercados de transporte e energia e ainda, a "abertura" de profissões fechadas.

5. Setor privado. Um novo salário mínimo será aplicado para os jovens e os desempregados de longo prazo. Será revista a legislação que proíbe as empresa de despedirem mensalmente mais de 2% de seus efetivos totais. Outras modificações serão introduzidas para baixar as indenizações por demissões.

''Poder da China irá além da economia''

Cláudia Trevisan, PEQUIM - O Estadao de S.Paulo

Autor do livro When China Rules the World (Penguin Books, 2009), o jornalista e acadêmico britânico Martin Jacques acredita que a China assumirá em breve uma posição dominante no mundo, quando exercitará o "complexo de superioridade" desenvolvido nos 2 mil anos de história dinástica. Leia a entrevista concedida ao Estado, de Londres, por telefone:
Quão distantes nós estamos do momento em que a China vai "dominar" o mundo?

O título do livro não deve ser interpretado lateralmente. When China Rules the World ("Quando a China Dominar o Mundo", em tradução livre) refere-se ao período em que a China será o país mais influente do mundo. Os EUA estão numa clara e irreversível trajetória de decadência e há dois fenômenos por trás deste processo. O primeiro é a mudança do centro de gravidade global, com a emergência do mundo em desenvolvimento, com países como China, Brasil e Índia. O segundo são os problemas domésticos americanos: endividamento, encolhimento da capacidade industrial e crise de sua posição financeira no que diz respeito ao dólar, a moeda usada como reserva de valor pelo mundo.Teremos cerca de 20 anos nos quais os EUA vão se ajustar a uma nova ordem da qual não serão mais o arquiteto, promotor ou beneficiário. Haverá a emergência de outros países, dos quais a China será o mais poderoso.

Em que um mundo influenciado pela China será diferente?

Nós ainda não temos a resposta, em parte porque estamos falando do futuro, mas também porque é algo desconhecido. Nunca vimos uma mudança como esta. Desde a Revolução Industrial britânica, a partir de 1780, o mundo foi dominado primeiro pela Europa e depois pelos EUA. Ou seja, sempre pelo Ocidente. Agora, vemos algo absolutamente distinto, que é a mudança de poder global em direção à Ásia, especificamente em direção à China e, secundariamente, em direção à Índia. Será a primeira vez em que o poder hegemônico não será ocidental.

Até agora, a emergência da China só tem sido discutida em termos econômicos. Isso significa que a China não terá influência política, cultural e intelectual?

Não, esta é uma visão estreita da realidade. Só discute-se a questão econômica porque as pessoas ainda acreditam que a China vai se ocidentalizar. Há uma visão generalizada de que existe apenas uma modernidade, que é a ocidental. Na verdade, a modernidade chinesa será, em vários aspectos, totalmente distinta da ocidental. Ela se manterá distinta, porque a modernidade é um reflexo da história e da cultura, e não apenas da concorrência tecnológica ou de mercado. A história moderna da China foi interpretada em termos ocidentais. Nós temos uma limitação intelectual na tentativa de entender o que a emergência da China significa.

O sr. menciona no livro o "complexo de superioridade" que ao longo da história imperial - que durou até 1911- marcou a relação da China com o mundo. Como este complexo pode influenciar o comportamento de uma China influente?

Este é o ponto crucial. Não é que outros países não tenham essa noção de superioridade, mas ela é bastante peculiar na China. À diferença de outros países populosos, como Índia, EUA, Brasil e Indonésia, 92% dos chineses se veem como integrantes de uma única raça, a dos chineses han. E isso em uma população de 1,3 bilhão de pessoas. A razão é que a China e a civilização chinesa têm uma existência extremamente longa, especialmente na parte centro-leste do país - o oeste veio muito mais tarde. As diferenças, as fronteiras e as distinções entre as pessoas diminuíram a ponto de todos verem a si mesmos como chineses han. Isso é combinado com uma longa história na qual a civilização chinesa foi particularmente bem sucedida. Os chineses viam a si mesmos como detentores da maior civilização do mundo e descreviam a China como a terra dos céus, o que deu a eles um forte sentimento de identidade e superioridade cultural. A China dinástica se via como o Império do Meio, o centro do universo, e desprezava os que estavam ao redor. A China era o centro do mundo e os demais, bárbaros. O que não sabemos é como esse sentimento de superioridade cultural vai se expressar no período de globalização. Mas sei que não será uma repetição da experiência ocidental. O sentimento de superioridade dos chineses é mais profundo do que era o dos europeus durante o período colonialista.

Recentemente, a China tentou impedir líderes globais de se encontrarem com o dalai lama ou com a líder uigur Rebiya Kadeer. Essa é uma prévia da maneira como a China irá se relacionar com o restante do mundo?

Acredito que sim, mas é necessário colocar essa questão em contexto. A China considera Xinjiang (província habitada pelos uigures) e o Tibete como partes de seu território e vê o relacionamento de qualquer país com pessoas hostis a seus interesses como uma interferência em seus assuntos internos. Ainda que a China não tenha sido expansionista no sentido europeu, ela se expandiu em seu próprio continente. Durante a dinastia Qing , Tibete e Xinjiang foram incorporados à China, o que dobrou o território do país. Os chineses han têm um conceito muito frágil de diferença cultural. Quando se trata de reconhecer diferenças religiosas, culturais e linguísticas, os chineses han têm uma mentalidade de assimilação, que é exatamente como a China foi construída, em um processo extremamente longo. Historicamente, a China viu-se como a terra dos céus e não interferiu no restante do mundo. Mas como uma China poderosa vai tratar um mundo definido pela diferença cultural? Isso me preocupa ainda mais do que a questão da democracia em si.

Qual será o impacto sobre valores liberais como liberdade individual, império da lei e liberdade de imprensa?

''China será o primeiro caso desde a Revolução Industrial em que o poder hegemônico não terá características ocidentais''
26 de outubro de 2009 | 0h 00

Nós estamos entrando em um mundo cultural complicado, no qual valores ocidentais vão ser contestados de uma nova maneira, com a emergência de novas culturas. Quando seu país e sua cultura são dominantes, os outros te copiam. O mundo vai ficar muito mais exposto à cultura chinesa, que é vastíssima e pode acrescentar elementos à experiência global. Eu estou deliberadamente separando as questões culturais dos temas políticos. Não acho que a noção de império da lei vai se aplicar na China da mesma maneira que no Ocidente. Mas eu acredito que a China será uma sociedade cada vez menos arbitrária. O que enfatizo é que a China tem um conceito muito diferente da relação entre Estado e sociedade e essa não é uma característica apenas do período comunista, mas do sistema chinês. O Estado ocupa uma posição diferente da que ocupa em sociedades ocidentais, ele desfruta de autoridade e legitimidade. O Estado chinês nunca teve sérios competidores, como a Igreja foi na Europa. O Estado chinês é extremamente competente. Muita gente fala sobre o Estado no Ocidente, mas não se discute a questão de sua competência. Acredito que nesse aspecto haverá um enorme interesse tanto de países em desenvolvimento quanto dos desenvolvidos de estudar a tradição do Estado chinês e sua competência.

Vulcão nas Ilhas Canárias ameaça explodir e gerar onda que chegará a África, Caribe, América do Norte e Norte do Brasil

The Guardian

LONDRES - Todos os elementos que se poderia querer para um filme clichê de desastre estão ali: uma linda ilha vulcânica no Atlântico, à beira de um colapso catastrófico, ameaçando propagar ondas gigantescas que vão avançar pelo globo em questão de horas. E enquanto os cientistas tentam em vão tornar audível seus alertas, os governos olham para o outro lado.


Segundo Bill McGuire, diretor do Centro de Pesquisa de Riscos Benfield Grieg, da
University College of London, um grande bloco de terra, aproximadamente do tamanho da ilha britânica de Man (572 km²), está prestes a se desgarrar da ilha de La Palma, nas Canárias, após uma erupção do vulcão Cumbre Vieja.

Quando - McGuire garante que a questão não é ''se'' - o bloco cair, vai gerar ondas gigantes chamadas megatsunamis. Viajando a 900 km/h, as imensas paredes de água vão atravessar os oceanos e atingir ilhas e continentes, deixando um rastro de destruição como os vistos no cinema. As megatsunami são ondas muito maiores do que as que o homem está acostumado a ver.

- Quando uma destas surge, se mantém de 10 a 15 minutos. É como uma grande parede de água em direção ao litoral - descreve McGuire.

Modelos feitos em computador do colapso da ilha mostram as primeiras regiões a serem afetadas por ondas de até 100 metros de altura: as ilhas vizinhas do arquipélago espanhol das Canárias. Em poucas horas, a costa ocidental da África será golpeada por ondas similares.

Entre nove e 12 horas depois do colapso em La Palma, ondas de 20 a 50 metros vão cruzar 6.500 km de oceano e atingir as ilhas caribenhas e a costa Leste dos Estados Unidos e Canadá. Ao chegar a portos e estuários, a água será canalizada para o interior. Mortes de pessoas e destruição de bens serão imensas, de acordo com McGuire.

Até 19 horas depois da erupção, ondas de 4 a 18 metros vão atingir a costa Norte e
Nordeste do Brasil, do Pará à Paraíba. A ilha de Fernando de Noronha será um dos locais onde a tsunami chegará com mais força no Atlântico Sul.

A Europa também será golpeada. O litoral Sul de Portugal, Espanha e o Oeste da Grã-Bretanha vão experimentar ondas de até 10 metros, quatro ou cinco horas depois do evento geológico nas Canárias. Portos serão destruídos. Desastres naturais como estes são raros, ocorrem a cada 10 mil anos. Mas La Palma pode entrar em colapso muito antes.

- O que sabemos é que está em processo de acontecer - garante McGuire.

A ilha chamou a atenção dos cientistas em 1949, quando seu vulcão, o Cumbre Vieja, entrou em erupção, causando um desabamento de parte de seu flanco Oeste, que afundou quatro metros oceano abaixo. Especialistas acreditam que placas de terreno continuam escorregando lentamente para o mar e dizem que uma próxima erupção deve fazer toda a lateral ocidental da montanha desabar.

- Quando acontecer, não vai levar mais que 90 segundos - disse McGuire.

Alemanha é fonte de desequilíbrio na Europa

24/05/2010-02h30
FSP, CLAUDIA ANTUNES
DO RIO DE JANEIRO

A Alemanha --e não a Espanha, Portugal ou mesmo a Grécia-- é a principal fonte de desequilíbrio estrutural na região do euro, afirma o economista alemão Heiner Flassbeck.
Flassbeck foi vice-ministro das Finanças de seu país em 1998 e 1999, quando foi implantada a moeda única europeia. Hoje, dirige a Divisão de Globalização e Estratégias de Desenvolvimento da Unctad (conferência da ONU para o comércio e o desenvolvimento), em Genebra.


Ele explica: ao praticar arrocho salarial nos últimos dez anos, com aumento real de apenas 4% no período, muito abaixo do crescimento da produtividade, a Alemanha passou a comprar menos e aumentou ainda mais a competitividade de seus produtos em relação aos dos demais países da zona do euro.
Como a moeda única impede que os vizinhos mexam no câmbio para estimular suas exportações, eles passaram a ter deficit comerciais e em conta-corrente (saldo de todo o dinheiro que entra e sai do país), enquanto a Alemanha acumula superavit.
Para Flassbeck, sem um movimento coordenado para sair desse impasse, "não haverá solução a longo prazo" para a união monetária.
Ele também afirma que os cortes de gastos já anunciados por alguns governos da região não podem ser generalizados porque provocarão deflação, maior risco imediato para as economias europeias.
O diretor da Unctad estará em São Paulo no início desta semana. Falará na Unicamp e participará de um debate fechado sobre "novo desenvolvimentismo" organizado pelo economista e ex-ministro Luiz Carlos Bresser-Pereira, colunista da Folha.
Ele falou por telefone, de Genebra. Abaixo, os principais trechos
FOLHA - Por que o pacote de resgate e os cortes de gastos anunciados na Europa nas últimas duas semanas não acalmaram os mercados?

HEINIR FLASSBECK - O que fizeram agora foi atacar o problema de curto prazo, mas o problema de médio e longo prazo na união monetária europeia é a diferença de competitividade entre a Alemanha, de um lado, e os países do sul da Europa.

Há tensões abertas entre a Alemanha e a França porque falta vontade ao governo alemão para resolver essa questão. Sem isso, não haverá solução de longo prazo para a área do euro.
FOLHA - O senhor diz que parte dessa diferença de competitividade vem da compressão dos salários na Alemanha, em comparação com os ganhos no sul. A Espanha cortou salários e congelou aposentadorias. É uma forma de resolver isso?

FLASSBECK - Não é a maneira correta. Se o problema não for atacado de modo coordenado, todo mundo cortará salários e isso levará à deflação, maior risco para a zona do euro, resultado mais provável neste momento e a principal razão da continuidade da inquietação.

¦Enquanto o governo alemão não reconhecer que há um problema, e enquanto não estiver disposto a conversar com seus empresários e sindicatos sobre como resolvê-lo, não haverá uma saída clara da crise.
FOLHA - O senhor defende que a Alemanha reduza a própria competitividade por meio de aumentos de salários?

FLASSBECK - Sim. A Alemanha cortou os salários dramaticamente e violou a meta comum de inflação [de 2% ao ano], praticando uma inflação próxima de zero.

Os dois estão relacionados e o custo unitário do trabalho [salário nominal menos produtividade, por unidade gerada do PIB] está abaixo da meta de inflação. A regra que deveria valer para todo mundo é que esse custo deveria estar sob a linha de 2%. Alguns ficaram acima disso, mas a Alemanha ficou muito abaixo.
Isso leva a uma situação insustentável, no mundo todo. O superavit [comercial] alemão está agora tão grande quanto o chinês.
FOLHA - A OCDE (grupo de 31 países industrializados) divulgou relatório sobre a economia francesa recomendando mais flexibilidade no mercado de trabalho e reforma da Previdência Social. É o oposto do que o senhor prescreve, não?

FLASSBECK - Isso é nonsense. A França é o único país europeu que entendeu as causas da crise. Se todos os países começarem a cortar salários, o resultado líquido e certo será deflação.

Essa recomendação reflete o pensamento econômico convencional, de que ter salários flexíveis, principalmente para baixo, resolve tudo. Foi o dogma que a Alemanha seguiu e que nos trouxe à situação atual.
FOLHA Não é uma contradição que se recomende políticas ortodoxas quando há apenas dois anos, quando a crise começou nos EUA, dizia-se que a ortodoxia estava morta?

FLASSBECK - Claro que não era verdade quando todos se proclamaram keynesianos. Agora começa a verdadeira batalha ideológica, sobre o que vamos fazer com o mercado de trabalho.

FOLHA - Mas o aumento da competição da China e dos EUA, que querem aumentar suas exportações, não é um desafio letal para o Estado de bem-estar europeu?

FLASSBECK - De modo nenhum. Enquanto tivermos aumento de produtividade, os salários podem aumentar. Sempre que fizermos o oposto, mais cedo ou mais tarde nossa taxa de câmbio aumentará, o que também diminui a competitividade.

Você não pode estar sempre ganhando competitividade em relação ao resto do mundo. Mais cedo ou mais tarde a taxa de câmbio vai reagir. Quando um país tem um grande deficit em conta corrente, normalmente deprecia sua moeda, e desse modo toda a competitividade que você ganhou [contra ele] vai embora.
Não há outro modo para o mundo todo aumentar seu bem-estar do que subindo os salários de acordo com a produtividade. Esta será a mensagem do nosso próximo relatório sobre comércio e desenvolvimento, que será divulgado em setembro. Se você quiser ser bem-sucedido, externa e internamente, é o mais importante.
*FOLHA - Como responde ao argumento de que Europa tem alto nível de desemprego porque os salários são altos e o mercado de trabalho é pouco flexível?

FLASSBECK - É totalmente errado. No caso da Alemanha, houve só um efeito positivo do "dumping" salarial, que foi encher os vizinhos com suas exportações. Internamente, a política foi um desastre. Não houve aumento dos investimentos nem do consumo.

FOLHA - Antes dos pacotes de estímulo para contornar a crise financeira de 2008, não havia um problema fiscal na maioria dos países europeus. Agora este é apontado como o maior problema. Por quê?

FLASSBECK - Isso é parte da batalha ideológica. As pessoas agora dizem que o governo é o problema, e não que resolveria todos os problemas, como se dizia há dois anos. Mas os que devem ser culpados por toda a confusão em que estamos são os mercados financeiros.

Os neoclássicos querem usar esse argumento [do problema fiscal] para voltar à batalha e talvez serem os vitoriosos no final. Então declaram os governos falidos, o que é falso: nenhum governo neste momento está falido, e todos os problemas podem ser resolvidos.
Os mercados dizerem que não querem dar dinheiro aos governos é ridículo, porque tiveram dinheiro dos governos, através dos bancos centrais, e agora se recusam a pagar.
FOLHA - Como explica o fato de o governo americano, que tem um deficit orçamentário de 10% do PIB, maior do que média europeia de 6,8%, não estar fazendo cortes, como os países europeus?

FLASSBECK - Os americanos têm em mente o cenário japonês de deflação e sabem que é perigoso se você corta muito em pouco tempo. Para mim a mensagem correta é: não corte muito em pouco tempo, e corte com cuidado, de acordo com a situação de cada país. Isso foi reconhecido por Dominique Strauss-Kahn [diretor-gerente do FMI]. Em entrevista à TV francesa, ele disse que nem todos podem cortar [gastos] ao mesmo tempo.

FOLHA - A missão do Fed, o banco central americano, é tanto de manter sob controle a inflação quanto de preservar o emprego. O BCE só tem meta de inflação. O senhor defende mudar isso?

FLASSBECK - Minha posição desde o início é a de que o mandato do Fed é mais razoável do que a do BCE. Manter a inflação baixa é relativamente simples, se você não se importa com o resto da economia. Mas, pelo menos nos últimos dias, o BCE mostrou certa flexibilidade [ao começar a comprar dívida dos países em crise].

FOLHA - Como avalia a reação popular ao aperto fiscal na Grécia e em outros países?

FLASSBECK - O sentimento mais disseminado nas ruas é que esses cortes estão errados. Há algo de verdade nisso. Cortes orçamentários, aumento de impostos e redução de salários combinados podem levar ao desastre.

Em médio prazo, deve haver uma mudança de direção nos Orçamentos, mas é preciso dar tempo ao tempo. Não é possível fazer do dia para a noite e têm que haver uma diferenciação entre os países com superavit externo, como a Alemanha, e os outros.
FOLHA - E como vê o argumento de que países como Grécia, Espanha e Portugal têm vivido nos últimos anos acima de seus meios?

FLASSBECK - E um país grande tem vivido abaixo dos seus meios, que é a Alemanha. Se isso for reconhecido, temos uma base para uma discussão razoável.

DESCOBERTO NOVO AQUÍFERO SOB A AMAZÔNIA. Prof. Ezequiel Santos

Pesquisadores da Universidade Federal do Pará (UFPA) divulgaram no mês de Abril a descoberta do que afirmam ser o maior aquífero do mundo. A imensa reserva subterrânea sob os Estados do Pará, Amazonas e Amapá tem o nome provisório de Aquífero Alter do Chão, em referência à cidade de mesmo nome, centro turístico perto de Santarém.

Temos estudos pontuais e vários dados coletados ao longo de mais de 30 anos que nos permitem dizer que se trata da maior reserva de água doce subterrânea do planeta. É maior em espessura que o Aquífero Guarani, considerado pela comunidade científica o maior do mundo, assegura Milton Matta, geólogo da UFPA. A capacidade do aquífero não foi estabelecida. Os dados preliminares indicam que ele possui uma área de 437,5 mil quilômetros quadrados e espessura média de 545 metros. menor em extensão, mas maior em espessura do que o Guarani.

Matta cita a porosidade da rocha em que a água está depositada como um dos indícios do potencial do reservatório. A rocha é muito porosa, o que indica grande capacidade de reserva de água. Além do mais, a permeabilidade (a conexão entre os poros da rocha) também é grande.

Segundo ele, apesar de as dimensões da reserva não terem sido mapeadas, sai do aquífero a água que abastece 100% de Santarém e quase toda Manaus. A vazão dos poços perfurados na região do aquífero é outro indício de que sua reserva é muito grande, afirma Matta.

Para o geólogo Ricardo Hirata, do Instituto de Geociências da Universidade de São Paulo, a comparação com o Guarani é interessante como referência, mas complicada. O Guarani é um aquífero extremamente importante para o Brasil e para a América Latina, mas não é o maior do mundo. Há pelo menos um aquífero, na Austrália, que é maior que o Guarani, contesta.

Para Hirata, também se deve levar em conta a localização das reservas ao se comparar as duas. Pela alta demanda e pela baixa disponibilidade de água que temos nas Regiões Sudeste e Sul, podemos dizer que o Guarani é estrategicamente muito mais importante do que um aquífero no Norte, mesmo que imenso.

Matta afirma categoricamente que o Aquífero Alter do Chão pode abastecer toda a população do mundo por centenas de anos. Afirma também que o acesso à água da reserva nortista é fácil. Aqui, o sujeito encontra água a uma profundidade de 300, 350 metros. Para chegar até a reserva do Guarani, às vezes é preciso cavar mais de mil metros.

O próximo passo do pesquisador é conseguir financiamento para um estudo sistemático da reserva subterrânea. Matta já concluiu um projeto para pedir recursos ao Banco Mundial.

Fonte: O Estado de S. Paulo

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Hidrografia do Brasil Prof. Ezequiel Santos!!

A Hidrografia do Brasil envolve o conjunto de recursos hídricos do território brasileiro, as bacias hidrográficas, Oceano Atlântico, os rios, lagos, lagoas,arquipélagos, golfos, baías, cataratas, usinas hidrelétricas, barragens, etc. De acordo com os órgãos governamentais, existem no Brasil doze grandes bacias hidrográficas, sendo que sete têm o nome de seus rios principais. Amazonas, Paraná, Tocantins, São Francisco, Parnaíba, Paraguai e Uruguai; as outras são agrupamentos de vários rios, não tendo um rio principal como eixo, por isso são chamadas de bacias agrupadas. Veja abaixo as doze macro bacias hidrográficas brasileiras:

* Região hidrográfica do Amazonas
* Região hidrográfica do Atlântico Nordeste Ocidental
* Região hidrográfica do Tocantins
* Região hidrográfica do Paraguai
* Região hidrográfica do Atlântico Nordeste Oriental
* Região hidrográfica do Parnaíba
* Região hidrográfica do São Francisco
* Região hidrográfica do Atlântico Leste
* Região hidrográfica do Paraná
* Região hidrográfica do Atlântico Sudeste
* Região hidrográfica do Uruguai
* Região hidrográfica do Atlântico Sul

O Brasil possui uma das mais amplas, diversificadas e extensas redes fluviais de todo o mundo. O maior país da América Latina conta com a maior reserva mundial de água doce e tem o maior potencial hídrico da Terra; cerca de 13% de toda água doce do planeta encontra-se em seu território.

A maior parte dos rios brasileiros é de planalto, apresentando-se encachoeirados e permitindo, assim, o aproveitamento hidrelétrico. As bacias Amazônica e do Paraguai ocupam extensões de planícies, mas as bacias hidrográficas do Paraná e do São Francisco são tipicamente de planalto. Merecem destaque as quedas-d'água de Urubupungá (no rio Paraná), Iguaçu (no rio Iguaçu), Pirapora, Sobradinho, Itaparica e Paulo Afonso (no rio São Francisco), onde estão localizadas usinas hidrelétricas.

Os rios brasileiros apresentam regime de alimentação pluvial, ou seja, são alimentados pelas águas das chuvas. Em decorrência de o clima tropical predominar na maior parte do território, as cheias ocorrem durante o verão, constituindo exceção alguns rios nordestinos, cujas cheias ocorrem entre o outono e o inverno. Os rios do sul não tem vazante acentuada, devido à boa distribuição das chuvas na região, assim como os da bacia Amazônica, também favorecidos pela uniformidade pluviométrica da região.

No Brasil, predomina a drenagem exorréica, ou seja, os rios correm em direção ao mar, como o Amazonas, o São Francisco, o Tocantins, o Parnaíba, etc. Pouquíssimos são os casos de drenagem endorréica, em que os rios se dirigem para o interior do país, desaguando em outros rios, como o Negro, o Purus, o Paraná, o Iguaçu, o Tietê, entre outros.

Em sua maior parte, os rios brasileiros são perenes, isto é, nunca secam. Mas na região semi-árida do Nordeste há rios que podem desaparecer durante uma parte do ano, na estação seca: são os chamados rios temporários ou intermitentes.
Laguna dos Patos, no Rio Grande do Sul, Brasil. À direita, o Oceano Atlântico

O Brasil possui poucos lagos, classificados em:

* Lagos de barragem, que são resultantes da acumulação de materiais e subdividem-se em lagunas ou lagoas costeiras, formadas a partir de restingas, tais como as lagoas dos Patos e Mirim, no Rio Grande do Sul, e lagoas de várzea, formadas quando as águas das cheias ficam alojadas entre barreiras de sedimentos deixados pelos rios ao voltarem ao seu leito normal. São comuns na Amazônia e no Pantanal Mato-Grossense;
* Lagos de erosão, formados por processos erosivos, ocorrendo no Planalto Brasileiro.

Os centros dispersores — ou seja, as porções mais altas do relevo que separam as bacias fluviais — que merecem destaque no Brasil são três: a cordilheira dos Andes, onde nascem alguns rios que formam o Amazonas; o planalto das Guianas, de onde partem os afluentes da margem esquerda do rio Amazonas; e o Planalto Brasileiro, subdividido em centros dispersores menores.

Os rios, ao desembocarem em outro rio ou no oceano, podem apresentar-se com uma foz do tipo estuário, com um único canal, ou do tipo delta, com vários canais entremeados de ilhas; ocorre, excepcionalmente, o tipo misto. No Brasil, predominam rios com foz do tipo estuário, com exceção do rio Amazonas, que possui foz do tipo misto, e dos rios Paranaíba, Acaraú, Piranhas e Paraíba do Sul, que possuem foz do tipo delta.

País úmido, com muitos rios, o Brasil, possuía quatro bacias principais e três secundárias, divisão que vigorou até a promulgação da Resolução nº 32, de 15 de outubro de 2003, aprovada pelo Conselho Nacional de Recursos Hídricos:

* Bacias principais
o Amazônica
o Tocantins-Araguaia
o Platina
o São Francisco
* Bacias secundárias
o Nordeste
o Leste
o Sudeste-Sul

Bacia Amazônica

A imagem mostra o complexo da Região Hidrográfica do Amazonas, a maior bacia hidrográfica do mundo (clique para ampliar e ver detalhes)

Com uma área, em terras brasileiras, de 3.984.467 km², a bacia Amazônica — a maior bacia hidrográfica do mundo[2] — ocupa mais da metade do território brasileiro e estende ainda pela Bolívia, Peru, Colômbia, Guiana, Suriname e Guiana Francesa. A Venezuela não faz parte dessa bacia. Além do rio principal — o Amazonas —, compreende os seus afluentes: na margem esquerda, os rios Içá, Japurá, Negro e Trombetas; na margem direita, os rios Juruá, Purus, Madeira, Tapajós e Xingu.

Atravessada pela linha do Equador na sua porção norte, a bacia Amazônica possui rios nos dois hemisférios e, devido à sua posição geográfica, apresenta três regimes de cheias: nos rios do norte, tropical boreal, com volume máximo em julho; nos rios do sul, tropical austral, com volume máximo em março; e no tronco central, volume máximo em abril, maio e junho. Dessa forma, o rio Amazonas tem sempre um grande volume de água, já que seus afluentes sofrem cheias em épocas diferentes.

O rio Amazonas, o mais extenso do mundo, possui 6.992,06 km dos quais 3.165 km situam em território brasileiro. Nasce na Cordilheira dos Andes, tem sua origem na nascente do rio Apurímac (alto da parte ocidental da cordilheira dos Andes) (Peru), onde recebe os nomes de Apacheta, Lloqueta, Tunguragua, Marañón, Apurímac, Ene, Tambo, Ucayali e Amazonas (Peru), e quando entra no Brasil passa a se chamar Solimões, nome que mantém até a foz do seu afluente rio Negro, próximo a Manaus. A maior parte do rio está inserida na planície sedimentar Amazônica, embora a nascente em sua totalidade é acidentada e de grande altitude.

Dentre os diversos rios do mundo, o Amazonas é o que possui maior débito, ou seja, é o que descarrega o maior volume de água em sua foz: em épocas normais, lança no oceano 80.000 m³/s, mas chega a jogar até 120.000 m³/s. Um fenômeno interessante que se observa na foz do rio Amazonas é a pororoca, encontro das águas do rio, durante as enchentes, com as águas do mar, quando ocorre maré alta.

A largura média do rio Amazonas é de 4 a 5 km, mas chega, em alguns trechos, a mais de 50 km. Devido ao pequeno declive que apresenta, a velocidade de suas águas é lenta, oscilando entre 2 e 7 km por hora.

Além do rio Amazonas e seus grandes afluentes, inúmeros cursos de água desenham uma verdadeira teia na planície Amazônica. São os furos, córregos ou pequenos rios que unem rios maiores entre si; os igarapés, pequenos e estreitos canais naturais espalhados pelo baixo-planalto e planície; e os paranás-mirins, braços de rios que contornam ilhas fluviais.

Bacia Platina

Formada pelas bacias dos rios Paraná, Paraguai e Uruguai, estende-se pelo Brasil, Uruguai, Bolívia, Paraguai e Argentina.

Bacia do rio Paraná

O mapa mostra a Bacia do Rio Paraná, com destaque para o rio Tietê, um dos seus principais afluentes(clique para ampliar e ver mais detalhes)

É a mais extensa das três, abrangendo mais de 10% do território nacional. Possui o maior potencial hidrelétrico instalado no Brasil, merecendo destaque grandes usinas, como a de Itaipu, Jupiá e Ilha Solteira, no rio Paraná; Ibitinga, Barra Bonita e Bariri no rio Tietê; Cachoeira Dourada, Itumbiara e São Simão, no rio Paranaíba; Furnas, Jaguara, Marimbondo e Itutinga, no rio Grande; e ainda Jurumirim, Xavantes e Capivara, no rio Paranapanema.

Seus rios são tipicamente de planalto, o que dificulta muito a navegação, que se tornará mais fácil com a utilização das eclusas construídas com a instalação das usinas hidrelétricas.

Os rios dessa bacia apresentam regime tropical austral, com chuvas no verão e, conseqüentemente, cheias de dezembro a março.

Bacia do Paraguai

Compreende um único grande rio, o Paraguai, que possui mais de 2.000 km de extensão, dos quais 1.400 km ficam em território nacional. É tipicamente um rio de planície, bastante navegável. Os principais portos nela localizados são Corumbá e Porto Murtinho.

Além do Paraguai, destacam-se rios menores, como o Miranda, o Taquari, o rio Apa e o São Lourenço. O regime desses rios é também o tropical austral, com grandes cheias nos meses de verão

Bacia do Uruguai

O rio Uruguai e sua bacia ocupam apenas 2% do território brasileiro, estendendo-se pelos estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Formado pelos rios Canoas e Pelotas, possui cerca de 1.500 km de extensão e serve de limite entre Brasil, Argentina e Uruguai. Situa-se na porção subtropical do País e apresenta duas cheias e duas vazantes anuais. Seus afluentes de maior destaque são: na margem direita, Peixe, Chapecó e Peperiguaçu; na margem esquerda, Ibicuí, Turvo, Ijuí e Piratini. Com o potencial hidrelétrico limitado, o rio Uruguai é usado para a navegação em alguns trechos. Suas principais hidrelétricas são: Barracão, Machadinho, Pinheiro, Estreito do Sul e Iraí.

Bacia do rio Araguaia

Ocupando uma área de 803.250 Km2, é a maior bacia hidrográfica inteiramente brasileira. Além de apresentar-se navegável em muitos trechos, é a terceira do País em potencial hidrelétrico, encontrando-se nela a Usina Hidrelétrica de Tucuruí.

O Tocantins, principal rio dessa bacia, nasce no norte de Goiás e deságua junto à foz do Amazonas. Em seu percurso, recebe o rio Araguaia, que se divide em dois braços, formando a Ilha do Bananal; situada no estado de Tocantins, é considerada a maior ilha fluvial interior do mundo.

Nessa região ocorrem rios de regime austral, ao sul, e equatorial, ao norte.

Bacia do São Francisco

Formada pelo rio São Francisco e seus afluentes, essa bacia está inteiramente localizada em terras brasileiras. Estende-se por uma área de 631.133 km², o que equivale a 7,5% do território nacional.

Apelidado pela população ribeirinha de Velho Chico, o São Francisco é um rio de planalto, que nasce na Serra da Canastra, em Minas Gerais, e atravessa os estados da Bahia, Pernambuco, Alagoas e Sergipe. Além de ser navegável em cerca de 2.000 km, possui também grande potencial hidrelétrico, merecendo destaque as usinas de Três Marias, Paulo Afonso e Sobradinho. Seus principais afluentes são os rios Paracatu, Carinhanha e Grande, na margem esquerda; e os rios Salitre, das Velhas e Verde Grande, na margem direita.

O rio São Francisco desempenhou importante papel na conquista e povoamento do sertão nordestino, sendo o grande responsável pelo transporte e abastecimento de couro na região. Ainda hoje, sua participação é fundamental na economia nordestina, pois, devido ao fato de atravessar trechos semi-áridos, permite a prática da agricultura em suas margens, além de oferecer condições para irrigação artificial de áreas mais distantes. Possuindo um regime tropical austral, com cheias de verão, tem um débito que oscila de 1.000 m³/s nas secas, a 10.000 m³/s nas cheias.

Bacia do Atlântico Nordeste Oriental, Bacia do rio Parnaíba e Bacia do Atlântico Nordeste Ocidental

É constituída por rios do sertão nordestino, na sua grande maioria temporários, pois secam em determinadas épocas do ano. Os rios dessa bacia são o Acaraú e o Jaguaribe, no Ceará; o Piranhas e o Potenji, no Rio Grande do Norte; o Paraíba, na Paraíba; o Capibaribe, o Una e o Pajeú, em Pernambuco. Além desses, fazem parte dessa bacia os rios maranhenses Turiaçu, Pindaré, Grajaú, Itapecuru e Mearim, além do rio Parnaíba, que separa o Maranhão do Piauí.

Bacia do Leste

Constituída por rios que descem do Planalto Atlântico em direção ao oceano, merecem destaque os rios Pardo, Jequitinhonha e Mucuri, em Minas Gerais e Bahia; Paraíba do Sul, em São Paulo e Rio de Janeiro; e Vaza-Barris, Itapicuru, das Contas e Paraguaçu, na Bahia.

Bacia do Sudeste e Sul

É constituída também por rios que correm na direção oeste-leste, ou seja, que vão das serras e planaltos em direção ao oceano. Destacam-se os rios Ribeira do Iguape, em São Paulo; Itajaí, em Santa Catarina; Jacuí e Camacuã, no Rio Grande do Sul.

Com exceção dos rios temporários do sertão nordestino, os demais rios das bacias secundárias apresentam regime tropical austral, com cheias no verão. São rios de planalto, pouco aproveitáveis para a navegação fluvial.

Prof. Ezequiel Santos!!