quarta-feira, 27 de maio de 2009

Evolução do Pensamento Geográfico

Evolução do Pensamento Geográfico

O professor Doutor em geografia Milton Almeida dos Santos analisa, em sua obra Por Uma Geografia Nova – da crítica da Geografia a uma Geografia Crítica, o momento de crise por que passa a ciência geográfica, através do raciocínio epistemológico crítico que redunda, como síntese, numa proposta de nova visão sobre como pensar e como fazer geografia. Esta obra, em sua primeira edição, publicada em 1978 pela Hucitec-Edusp, constitui-se num clássico dentro da ciência, continuando atual em nossos dias.
Milton Santos trabalha com categorias geográficas, e seu processo consiste na análise, reflexão, síntese e crítica sobre os temas ou objetos estudados. É, sobretudo, uma análise do espaço que ele realiza, tendo em mente este espaço – o objeto da geografia - como “espaço total” ou “totalidade social”, através das categorias: estrutura, processo, função, forma. Trata, ainda, de diversos temas dentro da geografia, distinguindo Filosofia, Epistemologia, Teoria, Prática, Método e Técnica como assuntos que têm “vida própria” em seu pensamento.
A geografia nasceu no final do século XIX, comprometida com a ideologia imperialista dominante na época. Era ciência e filosofia que teorizava e justificava o colonialismo, com novas conquistas territoriais (políticas e econômicas).
Esta Geografia Clássica, nascida com os primeiros geógrafos modernos importantes – como Ritter, Humboldt, Brun -, e seguida pelos “fundadores” da ciência geográfica – La Blache, Ratzel, Brunhes -, tinha em comum o fato de todos os seus grandes nomes serem “principistas”, isto é, procuravam princípios gerais que dessem cientificidade à geografia, como ponto de partida de seus trabalhos.
Foram influenciados por grandes pensadores como Kant (Construtivismo), Descartes (Racionalismo), Comte (Positivismo), Darwin (Evolucionismo), Spencer (Organicismo), Newton (Mecanicismo), Hegel (Idealismo), Marx (Materialismo Histórico), entre outros. Por exemplo, Hegel, com sua dialética idealista, influenciou o trabalho de Ritter e Ratzel (“Escola Alemã”), enquanto Marx, com sua Dialética baseada no Materialismo Histórico, influenciou também Ratzel, La Blache e Jean Brunhes (“Escolas Alemã e Francesa”).
Carl O. Sauer, geógrafo norte-americano, adepto da Geografia Cultural (1931), dizia ter a geografia se separado em dois ramos: Geografia Humana e Geografia Cultural. A primeira, interessada nas inter-relações homem x meio; a segunda, interessada especificamente nos elementos da cultura material que caracterizam as diversas (e distintas) áreas. Paul Vidal de La Blache, francês, trabalhava com os conceitos de gêneros de vida e região (1894, 1911), que, para Milton Santos, era uma Geografia Regional dualista e reducionista. Griffith Taylor, Ellen C. Semple, e E. Huntington foram geógrafos que trabalharam com conceitos deturpados de Ratzel, criando o Determinismo geográfico (primórdios do século XX).
P. W. Brian (1933), criou a noção de “área cultural”, aproximando-se dos conceitos possibilistas da Geografia Regional (isto era mais comum na Europa). Nos Estados Unidos, Maximilien Sorre (1921, 1955) e o grupo de Chicago trabalhavam com a Ecologia Urbana, que nada mais era que uma Geografia Regional vestida à americana, segundo Milton Santos. Mas estas linhas de trabalho tinham influência e seguidores nos dois lados do Atlântico Norte. Dickinson e Gourou (1969, 1973) trabalhavam com a noção de civilização, onde o conceito lablacheano de “gênero de vida” se perpetuava, com o acréscimo do componente tecnocultural, mascarando a influência do aspecto econômico (modo de produção) no cotidiano e na técnica local.
A Geografia Regional tratava o espaço como abstrato e absoluto, não relacional; a Geografia Geral Clássica tratava o espaço como relativo, através de princípios, não levando em conta a historicização (teoria x epistemologia). A Ecologia Humana (Urbana) separava o homem da natureza, pois se utilizava da natureza “primária”, e não da natureza “socializada”. A Geografia Cultural (Regional) isolava os locais e definia as construções humanas como resultados diretos da cultura de seus habitantes. Hoje, ambas estão superadas! Com isto, a Geografia Clássica, de seu nascedouro aos meados do século XX, com o Determinismo geográfico, o Possibilismo (Região, Gênero de vida) e as “áreas culturais”, ofereceu-nos noções “positivistas” da realidade, pois eram mecanicistas, causais e análogas às ciências naturais.
Milton Santos critica o regionalismo geográfico, pois entende o mundo como um sistema único, com partes interdependentes (e isto se acentua com o avanço da tecnologia e da ciência). Porém, defende o localismo cultural, pois os cotidianos (modos de vida) locais não deveriam sucumbir àqueles impostos “de fora”, através do poder do capital, que tira a solidariedade das pessoas.
A Nova Geografia (“New Geography”), surgida após a Segunda Guerra Mundial, foi fruto das novas tecnologias (como a automação), das novas necessidades (e dos novos usos) criados com a guerra. De certa forma, mesmo o objeto geográfico mudou, pois as tradicionais “Escolas Nacionais” que geravam pensamentos globais e individualizados cederam lugar à difusão de estudos “locacionais” (pelo poder econômico e político anglo-saxão, principalmente), cujo método era objetivo, com o uso da Matemática, Informática, Probabilidade. “... Isso dotou a pesquisa de meios que... deviam permitir uma definição mais exata das realidades, ensejando chegar assim à postulação de leis cuja pertinência pode, todavia, ser discutida”. (Milton Santos).
Milton Santos critica o “coisificismo” (empiricismo) e o ideologismo a que se submeteu a geografia, transformada pelo paradigma quantitativista; paradigma este que, aliás, é contestado como “paradigma” por ele, pois o considera apenas como um novo método de pesquisa, uma “matematização da paisagem”: “o grande equívoco da chamada ‘geografia quantitativa’ foi o de considerar como um domínio teórico o que era apenas um método e, além do mais, um método discutível. Critica a linearidade, ou seja, a lei de causa-efeito (ou a lei newtoniana-mecanicista de ação-reação), com que os temas geográficos são abordados. “... As classificações com as quais se pretende aprisionar toda a realidade.” (Maximilien Sorre).
A análise de sistemas leva à elaboração de modelos da realidade. E os fatores significativos? “Pode ocorrer que a quantificação de uma situação não seja representativa de seus aspectos mais importantes.” (Peter Bauer). “... O método só é apreciável quando o economista é capaz de fornecer, antes de tudo, uma análise correta e completa dos fatores significativos.” (John M. Keynes). Em suma, “é preciso refletir para medir e não medir para refletir.” (Gaston Bachelard).
A geografia foi utilizada para o planejamento, sendo, portanto, utilitarista. Isto excluiu o movimento social do processo de realização dessa ciência. A Nova Geografia acabou “...despersonalizando o homo sapiens, substituindo-o pelo homo economicus, que é nada mais que uma média: e o homem médio não existe. A chamada ‘nova geografia’ também excluiu o movimento social e dessa forma eliminou de suas preocupações o espaço das sociedades em movimento permanente. A geografia tornou-se viúva do espaço. (...) Então, o espaço geográfico é estudado como se ele não fosse o resultado de um processo onde o homem, a produção e o tempo exercem o papel essencial.”
Quanto aos modelos e aos sistemas, Milton Santos ressalta a importância do fator histórico na análise correta dos “fatos”, pois a simples análise de sistemas e a modelização/quantificação de fatos geográficos não levam em conta as condições precisas de tempo e espaço nas quais as variáveis sistêmicas combinam-se entre si. Diz ele, ainda, que a modelização permite a prospecção (previsão) de situações futuras, e foi utilizada largamente pela planificação, engajada à geografia. Porém, ela desconsidera o tempo, sendo uma sucessão de estágios “prontos” e matematizados (resultados), e não mostra ou analisa os processos de formação da paisagem, ou seja, ignora a dinâmica do espaço.
A Geografia da Percepção e do Comportamento também é analisada (e criticada), pois não leva em conta as ideologias individuais das pessoas e dos pesquisadores (sujeito/objeto/pesquisador); e, ainda, não é correto que a simples soma das partes (individualidades) de um sistema social forme a esta totalidade social. A análise psicológica é refutada por Milton Santos como um método único de pesquisa da realidade social.
Por fim, aborda o triunfo do formalismo (lógica formal) e da ideologia, mostrando o comodismo de toda ordem que foi (e é) praticado pelos cientistas em geral e pelas pessoas. Muitos geógrafos mantiveram-se (e mantém-se) no ecletismo teórico e metodológico, fruto mesmo da crise dos paradigmas e dos diferentes caminhos a seguir na ciência geográfica. “O império da ideologia capitalista que leva a esquecer que a organização do espaço em uma determinada formação social tem uma relação direta com a estrutura de classes presente nessa formação social e com as suas conexões externas.” (David Slater).
Através desta análise e síntese da evolução do pensamento geográfico, Milton Santos vem propor uma geografia nova, preocupada sobretudo com o bem-estar do homem; uma ciência que seja atuante em prol da restauração da dignidade humana, através da construção de um espaço mais humanizado. É, por isso, considerado como um dos fundadores da Geografia Crítica, paradigma vigente desde os anos setenta e produtor de profundas reflexões na ciência geográfica, tentado transformar a realidade cotidiana no mundo capitalista.
Segundo Paulo Cesar da Costa Gomes, em sua obra Geografia e Modernidade, foi essencial o conhecimento anteriormente produzido para gerar a geografia moderna, ou seja, a geografia científica, que se iniciou nas sistematizações realizadas por Humboldt e Ritter, na primeira metade do século XIX.
Até o século XVIII, a geografia (não científica) procurava trabalhar com temas gerais, cosmográficos, inserindo a Terra no universo e tentando conhecê-la e decifrá-la. E, até o século XIX, faziam-se também trabalhos descritivos, empíricos. Esta dicotomia de abordagens (e métodos) entre a geografia geral ou nomotética (sistemática, “matematizada”) e a geografia regional ou idiográfica (empírica-descritiva, “histórica”) advém desde a Antigüidade na geografia: “a tradição geográfica anterior ao advento da ciência moderna é também interpretada, utilizando esta mesma dualidade entre um saber racionalista, geral e objetivo e um outro que repousa sobre a descrição do particular.” (Paulo C. Gomes). Paulo Cesar destaca, ainda, outras dicotomias na geografia (que abrangem também outras ciências), como a separação entre o homem e a natureza, e as distintas formas de pensar (teoria) e de fazer (método) a geografia.
Paulo Cesar ressalta a importância dos “filósofos precursores” da geografia moderna, Kant e Herder. Kant reconhecia dualidades no “mundo real” entre a abordagem geral, mais teórica, e a abordagem local, mais prática, na geografia, bem como os aspectos distintos entre o ser humano e a natureza, advindo daí as formas diferentes de abordagem científica (porém, não priorizava nenhum dos “lados”, sabendo da unicidade do “mundo real”). Herder ressaltava a importância cultural dos povos, opondo-se radicalmente às idéias de progresso, de ciência racional e de universalismo da razão; influenciou a moderna Hermenêutica.
No início do século XIX, Alexander von Humboldt trabalhava com um método próprio: o da observação da natureza e posterior reflexão (indução), para apreendê-la em seu conjunto, num esforço de síntese e sistematização rigorosa e formal, característica de sua época. O outro “fundador” da geografia moderna e científica, Carl Ritter, também “pretendia estabelecer as novas bases de um saber organizado e metodologicamente rigoroso.” (Paulo C. Gomes). Ambos viam na unicidade humanidade-natureza as bases de seus estudos, sendo que Ritter era mais “histórico”, enquanto Humboldt mais “naturalista”, fundados no Racionalismo e no romantismo (humanismo).
No final do século XIX, para “reconhecer-se” como ciência, a geografia precisava de “cientificidade”. O Racionalismo científico geral à época gerou, então, o determinismo geográfico, atribuído sobretudo a Friedrich Ratzel: “por intermédio do discurso da biologia evolucionista, Ratzel deu uma perspectiva rigorosa, objetiva e geral à geografia, permitindo-lhe, portanto, ascender ao ranking das ciências positivas modernas. (...) O veio racionalista foi o principal fator na recusa de Ratzel ao “romantismo e idealismo” na geografia, que ele identificava a Ritter e à sua concepção de organismo inspirada diretamente no Romantismo.” (Paulo C. Gomes).
O “pai da escola geográfica francesa”, Paul Vidal de La Blache, sofreu várias influências filosóficas em seus trabalhos (sobretudo de Kant) e, em fins do século XIX e início do século XX, lançou as bases do Possibilismo (termo criado posteriormente – 1922 - pelo historiador Lucien Febvre) como forma de abordagem da realidade, e seu método é o da observação (descrição), busca das causas, comparação e conclusão (interpretação e síntese). Ele ressaltava a importância do método como fator definidor da geografia. Reconhecia também a importância da generalização, das leis e da explicação (ciência “objetiva”), e seu objeto de estudo era a região (talvez por necessidade “prática” de pesquisa), “naturalmente” distinguível pelo gênero de vida de seus habitantes. A obra de La Blache não era “nem moderna, nem tradicional... incorpora a perpetuidade relativa das grandes referências de um passado, em que se pode encontrar tantas maneiras de interpretar, quanto os pontos de vista daqueles que a examinam.”(Paulo C. Gomes).
Após a Segunda Guerra Mundial, as monografias descritivas em geografia (herdadas do pensamento de La Blache) não eram mais suficientes: surgiu o positivismo crítico, uma retomada do Racionalismo, que repudiava todo tipo metafísica, como o subjetivismo, a vontade e a intuição do espírito. O pragmatismo norte-americano, o culturalismo de Sauer, o método regional de Hartshorne e a crítica racionalista de Schaefer foram os primeiros passos para uma mudança paradigmática na geografia em meados do século XX.
A lógica formal – a filosofia analítica – que afetou a geografia durante o século XX (“o horizonte lógico-formal na geografia moderna”), teve origem na visualização do homem da possibilidade de realizar-se uma experiência científica sintética, utilizando-se de um modelo matemático para o conhecimento. O procedimento analítico associado ao método lógico funda o movimento da filosofia analítica. Houve uma valorização da matematização como novo paradigma científico, com a universalização dos procedimentos e a unificação do método.
“Os modelos lógicos foram utilizados na ciência notadamente em razão do prestígio da física quântica, que obteve resultados a partir de uma conduta matemática não proveniente de dados experimentais.” (Paulo C. Gomes), sendo a concepção sistêmica “adaptada para as outras ciências nos anos trinta, primeiro na biologia e em seguida na economia” (Paulo C. Gomes), tendo “a vantagem de ligar os fenômenos às suas estruturas e poder simultaneamente vê-los em diversos níveis, graças à utilização de subsistemas. Assim, a teoria geral dos sistemas foi um modelo poderoso entre todas as ciências, inclusive para a geografia.” (Paulo C. Gomes).
A Nova Geografia, que pretendia ser uma corrente pragmática e objetiva, utilizou-se desse novo método, rompendo com a “Geografia Clássica”, tentando legitimá-la enquanto ciência. E este novo modelo produziu uma nova síntese, cujo objeto fundamental da geografia passou a ser a análise espacial, utilizando-se do método sistêmico, que permitia a explicação “científica” dos fenômenos, o que gerou um neodeterminismo científico. Era, porém, ideológica e “alienante”: “estas abordagens privilegiaram uma descrição minuciosa e uma explicação naturalista, sem que houvesse uma verdadeira preocupação de explicação das estruturas sociais e em que as relações de produção estão sempre ausentes.”(Paulo C. Gomes). (David Harvey produziu trabalhos científicos sob esta ótica, mas depois a abandonou).
A crítica radical na geografia, paradigma principal que desde os anos setenta vem sendo trabalhado (Geografia Crítica), a partir essencialmente do Marxismo, é moderna, pois se fundamenta em um sistema lógico, racional e de determinações objetivas, o materialismo histórico e dialético, que busca na essência a explicação do caos aparente (com a participação ativa do cientista). Henri Lefebvre, Yves Lacoste e David Harvey estão entre os seus maiores expoentes.
O retorno ao humanismo – um humanismo moderno – teve início também após a Segunda Guerra, e está se fundamentando na ciência geográfica, apesar de suas diversas (e às vezes mesmo divergentes) correntes de pensamento. No horizonte humanista em geografia, o espaço é considerado como um resultado concreto de um processo histórico, possuindo uma dimensão real e física, ou uma construção simbólica que associa sentidos e idéias, onde dentro dessas concepções evoluem pressupostos dados à cada inspiração, passando a ser visto sob diferentes ângulos: dos valores, da alienação, da “distância existencial”, do comportamento e do mundo vivido.
Paulo Cesar coloca o materialismo histórico e o humanismo como “perspectivas complementares”, pois ambos criticavam e recusavam o positivismo científico. Atualmente, o marxismo dá sinais de esgotamento, pois pretendia gerar uma “verdade única e absoluta”, cujo valor científico não é mais consensual, em vista da complexidade do mundo atual.
Nesta obra, que inicialmente foi uma tese de doutorado sob a orientação do professor Paul Claval, Paulo Cesar fez uma análise da evolução da geografia (e do pensamento geográfico) inserida na perspectiva de Modernidade (epistemologicamente bipolarizada entre Racionalismo e subjetivismo), e relacionou as mudanças desta última às transformações históricas na ciência geográfica. Por fim, contesta o advento da pós-modernidade, visto que o Racionalismo das rupturas e revoluções (de toda ordem) permanecem no desenvolvimento da História. O geógrafo francês Paul Claval, que orientou, entre outros, Paulo C. C. Gomes em sua tese de doutorado na Universidade de Paris IV-Sorbonne (também analisada no presente trabalho), é autor fecundo na geografia contemporânea. Dentre diversos temas, trata também da epistemologia geográfica, sendo um cientista que utiliza a chamada Geografia Cultural como abordagem de pensamento e para a realização de seus trabalhos.
Na obra Evolução da Geografia Humana, Claval percorre a história do pensamento geográfico da seguinte maneira: compara os dois sub-ramos da Geografia Clássica – Determinismo e Possibilismo; analisa a geografia americana e sua “teoria espacial”; a escola francesa de geografia e as demais escolas, nos períodos distintos que representaram diferentes paradigmas nesta ciência; e chega à “criação” ou “retomada” da Geografia Cultural, baseada inicialmente no conceito de “gênero de vida” de La Blache, mas com uma perspectiva moderna.
A Geografia teve e ainda tem, durante o seu desenvolvimento, alguns paradigmas principais, que norteiam a produção científica dos geógrafos ao longo do tempo. Partem dos métodos de interpretação da realidade de cada cientista. São eles: Geografia Clássica, “tradicional” e positivista, praticada sobretudo até meados deste século, bipolarizada em Determinismo e Possibilismo; Geografia do Método Regional, positivista, do início do século XX; Geografia Teorética e Quantitativa, ou “Nova Geografia”, neopositivista, principalmente dos anos 50 a 70 do corrente; Geografia Crítica, utilizando-se do Materialismo Histórico Dialético, ou somente da Dialética, para entender e atuar socialmente no cotidiano - sobretudo urbano -, surgida a partir dos anos 70; e finalmente, a Geografia Humanística, baseada no homem e em seus aspectos psicológicos, representada por correntes como o Existencialismo e a Fenomenologia, a partir de meados dos anos 70 - não é considerada ainda um paradigma “completo”. Além destes paradigmas, outras correntes filosóficas estiveram envolvidas no trabalho geográfico, e surgem novas abordagens e métodos com o passar do tempo histórico. Também o tempo de divulgação das novas idéias por distintos territórios varia de acordo com a técnica informacional que se tem à disposição.
Segundo Claval, a paisagem é um conceito que surgiu em fins do século XVIII e início do século XIX, constituindo-se na descrição organizada e integrada dos diversos locais; nesta época, a geografia necessitava de um marco para fundar-se como ciência. O Determinismo, que norteou o início do pensamento geográfico moderno, teve as seguintes fases históricas na geografia: a tradição médica de Hipócrates (Grécia Antiga), retomada no século XVIII pelos naturalistas e filósofos, que tinha uma visão da natureza voltada à fisiologia humana; a visão reflexiva da natureza, baseada em Herder; e a visão evolucionista, baseada em Darwin, que teve a maior abrangência no pensamento geográfico. É nesta última fase que aparece o pai da geografia humana moderna, Friedrich Ratzel.
Em seguida, La Blache surge com o estudo regional na geografia, fornecendo descrições de regiões individualizadas, como se fossem únicas e de características permanentes.
Passando pela Geografia Regional, pela Geografia Teorética e pela Geografia Crítica, Paul Claval retoma conceitos humanistas e de alguns geógrafos passados para formular seu pensamento geográfico, tido como Geografia Cultural. Esta, reconhece o papel das transformações que o homem dá ao meio, tornando-o “cultural”, além de “natural”.

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